Resultado comprovou baixa qualidade da silagem no período de
estiagem
Considerada reserva de alimento em períodos críticos, a
silagem é uma garantia de que não haverá falta de comida para o gado,
especialmente em épocas de estiagem. Contudo, a zootecnista Juliana Comin,
responsável pelo laboratório de Bromatologia e Nutrição Animal da UNIJUÍ,
acredita ser fundamental que o produtor de leite saiba em que patamar de
qualidade está a silagem que ele oferece às vacas. Essa informação, segundo
Juliana, somente pode ser obtida através de uma detalhada análise feita em
laboratório.
Preocupado, o produtor Élvio Siqueira, de Boa Vista do
Incra, enviou ao laboratório da Unijuí uma amostra da refeição que serviu ao
plantel leiteiro no período de estiagem. Ele tomou esta decisão após conversar
com pesquisadores do Programa em Rede de Pesquisa-Desenvolvimento em Sistemas
de Produção com Atividade Leiteira no Noroeste do Estado (Rede Leite), do qual
ele faz parte desde 2009.
Segundo o produtor, quando o pasto no campo secou e a
alimentação das vacas ficou restrita à silagem, foram verificados alguns prejuízos,
como a dificuldade para se reproduzir e até óbito de uma vaca. O resultado da
análise bromatológica feita na amostra de silagem enviada ao laboratório
confirmou as suspeitas: o alimento que as vacas consumiram era de baixa
qualidade.
Para a zootecnista da UNIJUÍ, isso se deve a vários fatores.
“Logicamente, uma planta que se destine à silagem e que passou por um período
de estiagem vai ser penalizada em termos de nutrientes, porque não teve todo o
aporte que poderia ter em período regular de chuvas para poder fazer suas
composições químicas. No caso, a silagem produzida na propriedade de seu Élvio
perdeu qualidade energética, ficando com baixas calorias, mesmo que o nível de
proteína e de fibras estivesse adequado”.
Os animais necessitariam comer uma quantidade maior dessa
silagem para atingir a sua exigência calórica. Ao fazer isso, no entanto, eles
também estariam ingerindo, em excesso, os demais nutrientes, como a proteína,
por exemplo, o que tenderia a sobrecarregá-lo. “O animal é como nós: se comer a
mais ou a menos dos nutrientes dos quais necessita, vai ter distúrbios
metabólicos. Por isso é importante cuidar isso”, alertou Juliana.
Análises ficam prontas em até duas semanas
A zootecnista explica que a análise da silagem, como
qualquer outro alimento, é realizada pelo método químico tradicional. “A
análise aqui realizada avalia, sobretudo, a proteína, a fibra, a gordura, a
matéria seca e a matéria mineral dos alimentos. Cada fração do alimento é
determinada por uma metodologia diferente. Para determinarmos a proteína
contida na silagem temos uma metodologia diferente da utilizada para a análise
das fibras, por exemplo”, explicou Juliana.
O primeiro passo é a pré-secagem da silagem. A amostra é
colocada em uma estufa para que o excesso de água seja retirado. O que sobrou,
ou seja, a matéria seca, é pesada para se saber de quanto foi a perda de água.
Em seguida, a amostra é reduzida, ou seja, moída. “Isso é necessário porque
simulamos a digestão desse alimento”, esclareceu a zootecnista. Em seguida, vem
a secagem definitiva que retira toda a água e informa o que de fato restou de
nutrientes.
Após todos esses procedimentos, são separadas as porções
para serem feitas as análises de proteína, fibra, gordura, matéria seca e
matéria mineral. De posse dos resultados, os valores são colocados em uma
planilha para a realização dos cálculos pertinentes. Por fim, um laudo da
análise é entregue ao remetente. A análise feita na silagem também pode ser
feita em forrageiras e grãos, e leva em torno de uma a duas semanas para ficar
pronta.
O laboratório de Bromatologia e Nutrição Animal presta
serviços à comunidade desde o início do ano. Conforme Juliana, a maior parte
das análises solicitadas pelos produtores da Região Noroeste se refere a grãos.
Produtores interessados em enviar amostras de gramíneas, que contém maior teor
de água, devem enviá-las dentro de saco plástico, contendo entre 600 g a 1kg.
“Se a entrega da pastagem ocorrer depois de alguns dias da coleta, pedimos para
que a amostra seja congelada, a fim de que não ocorra perda de líquido e de
nutrientes. Estando congelada, a pastagem chega aqui como se recém estivesse
saído da lavoura”, assegurou a zootecnista.
Juliana recomenda que os produtores realizem análises
periódicas dos alimentos. “Assim como nós, os animais precisam comer para se
manter vivos e produzir carne, leite, lã ou ovos. Quanto mais qualidade, melhor
serão os ganhos e o resultado de produção e maior a longevidade produtiva do
animal. Se a qualidade estiver abaixo do normal, o alimento precisa ser
complementado”, finalizou Juliana.
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